A CARTOGRAFIA ESCOLAR NO MOVIMENTO DA GEOGRAFIA CRÍTICA: ELEMENTOS PARA DEBATES

Autores

DOI:

https://doi.org/10.56814/geosertoes.v5i10.1524

Palavras-chave:

Cartografia escolar, Geografia Crítica, Desafios

Resumo

O presente texto resultou dos trabalhos de extensão, pesquisas e reflexões que vim realizando com os professores e professoras da educação básica, povos originários, do campo e comunidades tradicionais. Nele evidencio os desafios inerentes à cartografia e geografia ensinadas em um movimento mais amplo de democratização das relações sócio territoriais em âmbito planetário. Problematizei a produção da cartografia escolar evidenciando seus limites e desafios, sobretudo no que se refere ao trabalho em sala de aula. Defendo que geografia e cartografia são como duas faces da mesma moeda, a primeira não se constitui como recurso analítico sem a linguagem que lhe é inerente, isso porque a segunda espacializa dados e informações que serão correlacionados, lidos e compreendidos pelo conjunto de categorias e conceitos da área e ensinados aos educandos e educandas. Demonstro que produzir e ter acesso às figurações imagéticas que atualmente denominamos de mapas, historicamente foi prerrogativa dos grupos hegemônicos: das lideranças tribais, dos reis, senhores feudais, da aristocracia, dos mercadores, de alguns segmentos conservadores do Estado Nação, da burguesia, da classe rentista, latifundiária, entre outros, cuja principal função era defender e/ou ampliar territórios e, na modernidade, fazer avançar as relações capitalistas e ampliar a reprodução do espaço do e para o capital. Na sequência, evidenciei que no Brasil, com o fortalecimento do Estado democrático de direito, das instituições e grupos que atuaram junto aos movimentos populares para pôr fim à ditadura, temos a ampliação dos produtores e usuários de mapas que passam então a diversificar, ampliar e interrogar o repertório cartográfico existente para a defesa de suas geografias (modos de estar e ser no mundo), voltadas à redistribuição dos direitos histórica e geograficamente negados, sobretudo aqueles ligados ao reconhecimento dos seus territórios e territorialidades. Finalizo a reflexão abordando a constituição do campo de conhecimento denominado cartografia escolar no contexto da geografia crítica, apontando seus desafios, sobretudo no que se refere ao âmbito do ensino de geografia voltado ao entendimento dos diferentes modos de estar no mundo, fundados na solidariedade e na defesa de vida digna para todos os seres vivos.

Biografia do Autor

  • Ângela Massumi Katuta, Universidade Federal do Paraná/Setor Litoral
    Professora associada do curso de licenciatura em geografia da Universidade Federal do Paraná/Setor Litoral. Atua na área de cartografia e ensino de geografia, formação inicial e continuada de professores, educação do campo, educação escolar indígena e quilombola.

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Publicado

14-03-2021

Como Citar

A CARTOGRAFIA ESCOLAR NO MOVIMENTO DA GEOGRAFIA CRÍTICA: ELEMENTOS PARA DEBATES. (2021). Revista GeoSertões, 5(10), 126-150. https://doi.org/10.56814/geosertoes.v5i10.1524