Comparação da diversidade de comportamentos exibidos por emas em cativeiro e recém liberadas

Autores

  • Gilson de Souza Ferreira Neto Universidade Federal de Goiás / Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
  • Marco Antônio Prado Universidade Federal de Goiás / Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Pedro Ubatan Camargo Neves Universidade Federal de Goiás / Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Regison da Costa Oliveira Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
  • Elizabeth Ferreira Guimarães Associação Floresta Cheia Instituto de Conservação Ambiental

DOI:

https://doi.org/10.29215/pecen.v5i0.1809

Resumo

Em geral, animais resgatados passam um período em cativeiro para avaliação da condição física e capacidade de sobrevivência antes de retornarem a natureza. Durante este período, os animais devem ser estimulados através de um enriquecimento ambiental e alimentar para manterem os comportamentos similares aos apresentados em meio natural. Este estudo foi realizado com seis indivíduos de Rhea americana no bioma Cerrado, em Goiás. O objetivo deste trabalho foi avaliar a diversidade de comportamentos de emas, através de uma comparação entre os comportamentos de cativeiro e vida livre. Os animais tinham entre 4 e 10 meses durante o monitoramento, sendo que os mesmos indivíduos foram observados em cativeiro e vida livre. Observações comportamentais foram feitas com seis indivíduos durante um total de 120 h, sendo 60 h em cativeiro e 60 h em vida livre. Para a construção do etograma foram utilizados os métodos de observação ad libitum e animal focal. Identificamos um total de 19 comportamentos agrupados em oito categorias comportamentais: alimentação, encontro agonístico, locomoção, limpeza, vocalização, brincadeiras, inatividade e defesa. As diversidades de comportamentos tiveram frequências semelhantes nas fases de cativeiro e vida livre. Os comportamentos de locomoção e vocalização tiveram maior expressão em cativeiro, enquanto os comportamentos de limpeza, alimentação, encontro agonístico e brincadeira tiveram maior expressão em vida livre. Entretanto, não houve nenhuma diferença significativa entre os comportamentos de vida livre e cativeiro. Nesse estudo foram feitas observações apenas de machos, e por isso, sugerimos estudos adicionais que incluam machos e fêmeas, para serem observados possíveis comportamentos de reprodução. As reintroduções com emas, geralmente, não são bem sucedidas, considerando a alta taxa de mortalidade por um predador natural. Medidas adequadas de manejo poderiam evitar estes problemas. Desta forma, ações conservacionistas que visem a reintrodução de emas e que identifiquem os comportamentos de indivíduos em cativeiro e vida livre podem ajudar a melhorar o bem-estar animal em cativeiro e, desta forma, aumentar as chances de sobrevivência no ambiente natural. O enriquecimento ambiental e alimentar pode ser essencial para estimular os comportamentos naturais, evitando comportamentos estereotipados em cativeiro. Além disso, os métodos usados nesse estudo poderiam ser utilizados para outras aves ratitas.

Palavras chave: Aves ratitas, bem-estar animal, Cerrado, observações comportamentais, Rhea americana.

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Publicado

19-10-2021

Edição

Seção

CIÊNCIAS BIOLÓGICAS / BIOLOGICAL SCIENCES