Primeiro registro fóssil de Alligatoridae do Mato Grosso do Sul e o valor sistemático das rosáceas em Caimaninae

Autores

  • Caio Fabricio Cezar Geroto Universidade Paulista, Instituto de Ciências e Saúde, Ciências Biológicas, Laboratório de Ecologia Estrutural e Funcional de Ecossistemas
  • Alessandro Marques de Oliveira Universidade Federal do ABC, Laboratório de Sistemática e Diversidade
  • Thais Agrella Janolla Universidade Paulista, Instituto de Ciências e Saúde, Ciências Biológicas, Laboratório de Ecologia Estrutural e Funcional de Ecossistemas

DOI:

https://doi.org/10.29215/pecen.v3i1.1152

Resumo

No estado do Mato Grosso do Sul, fósseis de vertebrados Pleistocênicos ou Holocênicos são encontrados majoritariamente em grutas calcárias da Serra da Bodoquena. Além disso, na maioria das vezes os fósseis pertencem à mamíferos de grande porte, como por exemplo preguiças gigantes, tatus, gliptodontes, proboscídeos e grandes carnívoros. No entanto, as ocorrências de outros vertebrados fósseis são raras. Diante do exposto, este trabalho teve por objetivos realizar a primeira descrição de fósseis de Crocodylia provenientes do rio Formoso, próximo à foz com o rio Miranda, no município de Bonito-MS. Em adição, alguns comentários sobre sistemática foram realizados. Os elementos fósseis são dois osteodermos. Embora as características morfológicas dos osteodermos fósseis não permitam a identificação de sua posição precisa (dorsais ou caudais), os resultados das análises comparativas por meio da morfometria linear são sugestivos para identificação de provável Melanosuchus cf. niger, além de um espécime indeterminado de Eusuchia. Uma hipótese plausível seria considerar um possível caso de gigantismo em Caiman latirostris Daudin, 1802, cuja espécie ainda está presente na região. Portanto, os registros apresentados aqui ajudam a compor um quadro sobre a estrutura das comunidades de vertebrados durante o Quaternário Tardio de Mato Grosso do Sul.

Palavras chave: Osteodermo, Crocodylia, Rio Formoso, Quaternário, Mato Grosso do Sul.

Referências

Andrade L.C., Nascimento E.R., Tizuka M.M. & Kipnis R. (2010) Primeira ocorrência da família Alligatoridae (Crocodilya) em depósitos fluviais do Rio Madeira, Porto Velho, RO (p. 72–82). In: da Silva R.C. & Avilla L.S. (Orgs). VII Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, 72. Rio de Janeiro: SBP.

Araújo-Júnior H.I., Pinheiro A.E.P., Ximenes C.L., Santos A.S.T. & Porpino K.O. (2010) Primeiro registro de Caimaninae em depósitos pleistocênicos de tanques no Nordeste brasileiro (p. 13–14). In: Vasconcellos F.M. (Org.). Jornada Fluminense de Paleontologia. Volume 5. Rio de Janeiro: UFRJ.

Boggiani P.C., Coimbra A.M., Gesicki A.L.D., Sial A.N., Ferreira V.P., Brenha-Ribeiro F. & Flexor J.M. (2002) Tufas Calcárias da Serra da Bodoquena, MS: cachoeiras petrificadas ao longo dos rios (p. 249–259). In: Schobbenhaus C., Campos D.A., Queiroz E.T., Winge M. & Berbet-Born M. (Eds). Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Brasília: DNPM.

Brochu C. A. (1997) Morphology, fossil, divergence timing and Phylogenetic relationships of Gavialis. Systematic Biology, 46(3): 479–522. DOI: 10.1093/sysbio/46.3.479

Brochu C.A. (1999) Phylogenetics, Taxonomy, and Historical Biogeography of Alligatoroidea. Journal of Vertebrate Paleontology, 19(supplement 2): 9–100. DOI: 10.1080/02724634.1999.10

Brochu C.A. (2013) Phylogenetic relationships of Palaeogene ziphodont eusuchians and the status of Pristichampsus Gervais, 1853. Earth and Environmental Science Transactions of the Royal Society of Edinburgh, 103(3–4): 521–550. DOI: 10.1017/S1755691013000200

Buffrénil V. de. (1982) Morphogenesis of bone ornamentation in extant and extinct crocodilians. Zoomorphology, 99: 155–166.

Busack S.D. & Pandya S. (2001) Geographic variation in Caiman crocodilus and Caiman yacare (Crocodylia, Alligatoridae): Systematics and legal implications. Herpetologica, 57: 294–312.

Carvalho A.L. (1951) Jacarés do Brasil. Arquivos Do Museu Nacional, 43: 127–153.

Castro M.C., Montefeltro F.C. & Langer M.C. (2014) The Quaternary vertebrate fauna of the limestone cave Gruta do Ioiô, northeastern Brazil. Quaternary International, 352(C): 164–175. DOI: 10.1016/j.quaint.2014.06.038

Chen I.H., Yang W. & Meyers M.A. (2014) Alligator osteoderms : Mechanical behavior and hierarchical structure. Materials Science & Engineering C, 35: 441–448. DOI: 10.1016/j.ms ec.2013.11.024

Cidade G.M. & Hsiou A.S. (2018) The crocodylomorph fauna of the cenozoic of South America and its evolutionary history : A review Journal of South American Earth Sciences The crocodylomorph fauna of the Cenozoic of South America and its evolutionary history : a review. Journal of South American Earth Sciences, 90: 392–411. DOI: 10.1016/j.jsames.2018.12

.026

Clarac F., Buffrénil V. De, Cubo J. & Quilhac A. (2018) Vascularization in Ornamented Osteoderms : Physiological Implications in Ectothermy and Amphibious Lifestyle in the Crocodylomorphs? The Anatomical Record, 183: 175–183. DOI: 10.1002/ar.23695

de Melo França L., Fortier D.C., Bocchiglieri A., Dantas M.A.T., Liparini A., Cherkinsky A. & de Souza Ribeiro A. (2014) Radiocarbon dating and stable isotopes analyses of Caiman latirostris (Daudin, 1801) (Crocodylia, Alligatoridae) from the late Pleistocene of Northeastern Brazil, with comments on spatial distribution of the species. Quaternary International, 352(C): 159–163. DOI: 10.1016/j.quaint.2014.06.046

Dubansky B.H. (2012) The functional morphology of the intermandibulo-cervical envelope of the American alligator (Alligator mississippiensis). Doctoral thesis, Department of Biological Sciences, Louisiana State University and Agricultural and Mechanical College.

Dubansky B.H. & Dubansky B.D. (2018) Natural Development of Dermal Ectopic Bone in the American Alligator (Alligator mississippiensis) Resembles Heterotopic Ossification Disorders in Humans. The Anatomical Record, 301: 56–76. DOI: 10.1002/ar.23682

Filho W.S., Karmann I., Boggiani P.C., Petri S., De Souza Cristalli P. & Utida G. (2009) A deposição de tufas quaternárias no estado de Mato Grosso do Sul: Proposta de definição da Formação Serra da Bodoquena. Geologia USP - Serie Cientifica, 9(3): 47–60. DOI: 10.5327/Z1519-874X2009000300003

Fortier D.C. & Rincón A.D. (2013) Pleistocene crocodylians from Venezuela, and the description of a new species of Caiman. Quaternary International, 305: 141–148. DOI: 10.1016/j.quaint.2012.03.018

Fortier D.C., Vilaboim L. & Vasconcelos A. (2010) Primeiro registro de Caimaninae para o Quaternário do Estado da Bahia (p. 13–14). In: Riff D. (Org.). Paleo Minas. Livro de Resumos. Uberlândia: UFU.

Gmelin J.F. (1789) Pars III, Caroli a Linné, Systema Naturae. Leipzig: Forgotten Books, Germany, 492 p.

Godoi H.O. (2001) Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil, Aquidauana-MS. Folha SF. 21-X-A, Escala 1:250.000. Brasília: CPRM.

Gray J.E. (1844) Catalogue of the Tortoises, Crocodiles, and Amphisbaenians, in the Collection of the British Museum. London: British Museum (Natural History), Department of Zoology. 80 p.

Guidon N., Guérin C., Faure M., Felice G.D., Cristiane B. & Ignácio E. (2009) Toca das Moendas, Piauí-Brasil, primeiros resultados das escavações arqueológicas. Fumdhamentos, 8: 70–85.

Hill R.V. (2010) Osteoderms of Simosuchus clarki (Crocodyliformes: Notosuchia) from the Late Cretaceous of Madagascar. Journal of Vertebrate Paleontology, 30(supplement 1): 154–176. DOI: 10.1080/02724634.2010.518110

Hirooka S.S. (2003) As cavernas do Bauxi como detentoras de informações do período Pleistoceno (p. 204–205). In: Simpósio de Geologia do Centro Oeste. Boletim de resumos. Volume 1. Cuiabá: UFMT.

Holz M. & Simões M.G. (2002) Elementos fundamentais de tafonomia. Porto Alegre: UFRGS. 232 p.

Hsiou A.S. & Fortier D.C. (2007) Primeiro registro de Caiman (Crocodylia, Alligatoridae) para o Pleistoceno do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Gaea, 3(1): 37–44.

Lydekker R. (1888) Catalogue of fossil Reptilia and Amphibia. London: Trustees. 309 p.

Magnusson W.E. (1992) Paleosuchus palpebrosus (p. 554.1–554.2). In: King F.W. & Brisbin Jr. I.L (Edits). Catalogue of American Amphibians and Reptiles. Manaus: Society for the Study of Amphibians and Reptiles.

Mapa político América do Sul (2019) Wikimedia Commons, the free media repositor: Mapa político da América do Sul. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mapa_po

l%C3%ADti co_Am%C3%A9rica_do_Sul.svg (Acessado em: 16/04/19). Atribuição: High source [CC BY-SA 4.0 (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0)].

Marinho T.S., Porpino K. & Santos M.F.C.F. (2005) Ocorrência de Caiman latirostris Daudin, 1802 (Crocodylia: Alligatoridae) no Quaternário do Rio Grande do Norte, Brasil (p. 163). In: Kellner A.W., Henriques D.D.R. & Rodrigues T. (Orgs). II Congresso Latino-Americano de Paleontologia de Vertebrados (Resumos). Rio de Janeiro: Museu nacional/UFRJ/FAPERJ.

Oliveira A.M. (2013) Paleofauna de vertebrados, com ênfase em répteis e mamíferos, dos depósitos quaternários da região da Serra da Bodoquena, Mato Grosso do Sul, Brasil. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geologia Regional. Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, São Paulo.

Oliveira A.M. de & Cordeiro L.M. (2017) Novas ocorrências de Scelidotheriinae (Mylodontidae) em cavernas da Serra da Bodoquena (Mato Grosso do Sul, Brasil). Espelo-Tema, 28(2): 125–134.

Oliveira A.M.de, Becker-kerber B., Cordeiro L.M., Borghezan R., Avilla L.S. & Santos C.M.D. (2017) Quaternary mammals from central Brazil (Serra da Bodoquena, Mato Grosso do Sul) and comments on paleobiogeography and paleoenviroments. Revista Brasileira de Paleontologia, 20(1): 31–44. DOI: 10.4072/rbp.2017.1.03

Pansani T.R., Oliveira A.M. de & Pacheco M.L.A.F. (2016) Nova ocorrência de megafauna plesitocênica em Mato Grosso do Sul. Revista Do Instituto Geológico, 37(2): 73–85. DOI: 10.5935/0100-929X.20160010

Patterson B. (1936) Caiman latirostris from the Pleistocene of Argentina, and a summary of South American Cenozoic Crocodilia. Herpetologica, 1(2): 43–54.

Pereira M.C.B., Mendes C.A.B., Grehs S.A., Barreto S.R., Becker M., Langer M.B.R. & Dias F.A. (2004) Bacia Hidrográfica do Rio Miranda: Estado da Arte. Campo Grande: UCDB. 177 p.

Porpino K., Marinho T.S. & Santos M.F.C.F. (2004) Ocorrência de Crocodiliformes no Quaternário do Lajedo de Soledade, Apodi (RN) (p. 49–56). In: Netto R.G. (Org.). Boletim da Sociedade Brasileira de Paleontologia. Rio de Janeiro.

Richardson K.G., Webb G.J.W. & Manolis S.C. (2002) Crocodyles: inside out. A guide to the crocodylians and their functional morphology. Australia: Surrey Beatty and Sons. 172 p.

Romer A.S. (1997) Osteology of the reptiles (Reprint Ed). Berlin: Malabar Krieger Publishing Company. 800 p.

Salisbury S.W. & Frey E. (2001) A biomechanical transformation model for the evolution of semi-spheroidal articulations between adjoining vertebral bodies in crocodilians (p. 85–134). In: Grigg G.C., Seebacher F. & Franklin C.E. (Orgs). Conference on Crocodilian Biology and Evolution, 1998. Australia: Surrey Beatty & Sons, St Lucia.

Salisbury S.W., Molnar R.E., Frey E. & Willis P.M.A. (2006) The origin of modern crocodyliforms: new evidence from the Cretaceous of Australia. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, 273: 2439–2448. DOI: 10.1098/rspb.2006.3613

Salles L.O., Cartelle C., Guedes P.G., Boggiani P.C., Janoo A. & Russo C.A.M. (2006) Quaternary mammals from Serra da Bodoquena, Mato Grosso do Sul, Brazil. Boletim Do Museu Nacional, (521): 1–12.

Scheffler M.S., Kashimoto E.M. & Oliveira A.M. (2010) Revisão sobre a Paleontologia no Estado do Mato Grosso do Sul: fósseis e afloramentos descritos. Brazilian Geographical Journal: Geosciences and Humanities Research Medium, 1: 65–99.

Tucker A.D. (1997) Validation of skeletochronology to determine age of freshwater crocodiles (Crocodylus johnstoni). Marine Freshwater Research, 48: 343–351.

Turcq B., Suguio K., Soubies F., Servant M. & Pressinotti M.M.N. (1987) Alguns terraços fluviais do Sudeste e do Centro-oeste brasileiro datados por radiocarbono: possíveis significados paleoclimáticos (p. 379–392). In: Correa I.R.S. (Org.). Anais do Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário. Porto Alegre: ABEQUA.

Vitt L.J. & Caldwell J.P. (2009) Herpetology: an introductory biology of amphibians and reptiles. 3º edition. UK/USA: Academic Press. 713 p.

Wermuth H. & Fuchs K. (1978) Wermuth, Heinz, and Karlheinz Fuchs. Bestimmen von Krokodilen und ihrer Häute: e. Anleitung zum Identifizieren d. Art-u. Rassen-Zugehörigkeit d. Krokodile für Behörden (im Zusammenhang mit d. Artenschutz-Übereinkommen von Washington), für Reptilleder-Indu. Fischer; 1. Aufl edition. 99 p.

Salisbury W.S. & Frey E. (2001) A biomechanical transformation model for the evolution of semi-spheroidal articulations between adjoining vertebral bodies in crocodilians (p. 85–154). In: Grigg G.C., Seebacher F. & Franklin C.E. (Eds). Crocodilian Biology and Evolution. Chipping Norton: Surrey Beatty and Sons. 446 p.

Downloads

Publicado

28-05-2019

Edição

Seção

CIÊNCIAS DA TERRA / EARTH SCIENCES